quinta-feira, 10 de maio de 2012

Livros e etc: Uma conversa com Josélia Aguiar

Josélia Aguiar é especialista na cobertura de livros
Foto: Jose Terra

Josélia Aguiar é formada em Comunicação na Universidade Federal da Bahia. Com mestrado em História Cultural pela USP, atualmente ela faz doutorado na mesma area. Jornalista da Folha de São Paulo, alimenta um blog chamado livroseetc. Com um toque do destino e determinação, Josélia está preparando o seu primeiro livro. Jornalismo Cultural, lá vamos nós!




"Para cobrir bem cultura é preciso saber das outras áreas. Conhecer a história da imprensa, os manuais de jornalismo e entender as regras básicas da profissão. Senão, vai saber um montão de coisas mas vai agir como se fosse um foca, o que para o leitor será lamentável."



O seu blog estabelece uma ligação direta com a literatura. Conte um pouco sobre esse interesse com o universo dos livros.
Comecei a ler muito cedo. Queria ler o que podia em casa, depois fui procurar em biblioteca. Num país como o nosso, o mercado de livro ainda é pequeno (para o tamanho do país), então eu tenho sorte por trabalhar com algo que gosto. Tenho curiosidade por vários assuntos, tanto que no blog, tento tratar não só de literatura, mas de humanidades em geral. Por isso o nome do blog é Livros Etc.

Você está preparando o seu primeiro livro, pode nos contar sobre o que se trata?
Sim, comecei faz tempo, mas só agora tive de parar para concluir o projeto. Como conto já no perfil do blog, o livro está previsto para o segundo semestre, pelo novo selo da Folha, o Três Estrelas, chefiado pelo Alcino Leite. É uma biografia, só posso dizer isso por enquanto. Acho que sabem um pouco do tal segredo de polichinelo, porque estou entrevistando muita gente e procurando a ajuda de pesquisadores de várias áreas. O meu biografado alcançou muitos mares, e por isso a vida dele é "quase impossível de abarcar”, como diria uma amiga minha.

Para ser jornalista é necessária uma formação, para ser poeta, escritor ou cronista, você acredita que também precisa de algum conhecimento específico?
Jornalistas são muitas vezes criticados por serem “generalistas”, pois têm de saber um pouco de tudo, o que acaba sendo realmente muito pouco, ou seja, a depender da discussão, sairá em desvantagem. Acho que saber um pouco de tudo pode ser a principal grande virtude do jornalista, significa que ele vai transitar por muitos territórios, recolher várias visões, conseguir se comunicar sobre muitos assuntos e com vários públicos. O que acho ruim é quando, na qualidade de generalista, o jornalista age com arrogância, como se muito soubesse sobre aquilo. Um jornalista que começa a se especializar tem então de acompanhar tudo da área, significa ler, conversar, pesquisar, trabalhar muito, por muito tempo. Não é nada diferente de outras profissões.


É comum no círculo de pessoas que você convive jornalistas ser escritor?
Muito. Escritor para ganhar a vida, trabalha como jornalista ou faz colaborações eventuais na imprensa. Quando alguém que quer ser escritor me pergunta se deve trabalhar como jornalista, eu costumo recomendar sempre: não faça isso, tente viver de outra profissão. Acho que deve ser muito desgastante para um escritor ter de resenhar livros de colegas e/ou conviver o tempo inteiro com o mundo do jornalismo, que ocupa muito tempo, digo, horas diárias. Talvez seja melhor ser professor, ainda que da área de letras ou filosofia. Acho que para um escritor deve ser um grande desperdício ficar 15 horas numa redação. Claro, que muita gente no passado era escritor principalmente porque era jornalista. Aí é outro caso, no passado acho que as coisas eram um pouco diferentes, era a época do jornalismo romântico.

Como funciona essa relação de ser jornalista e escritora ao mesmo tempo?
A ideia de ser jornalista também apareceu muito cedo, ainda na infância. Tinha mais vocação para trabalhar em caderno cultural, mas a vida me levou antes a lidar com outro tipo de assunto, economia. Parece um grande desvio, hoje vejo que isso foi uma maravilha. Quanta coisa eu aprendi.
Muita gente gosta de livros e não trabalha necessariamente com isso. Acho que minha sorte foi conseguir trabalhar com algo de que gosto. Não me considero bem "escritora", ainda sou jornalista.


Uma vez que o estudante de jornalismo demonstre interesse por Cultura, mais necessariamente Literatura, que tipo de especialização ele pode fazer?
Acho importante fazer aulas em cursos de letras, história, ciências sociais. Tem gente que se concentra muito, por exemplo, na teoria literária, mas deixa de saber como funciona o mundo (política nacional e internacional, economia etc). Para cobrir bem cultura é preciso saber das outras áreas, assim como um jornalista de economia será ainda melhor se acompanhar os cadernos de cultura. Na Folha de São Paulo por exemplo, não há exigência do diploma, então é preciso que o profissional conheça a história da imprensa, leia os manuais de jornalismo (mesmo que seja para criticar depois, mas tem de conhecer bastante), entender as regras básicas na profissão. Senão, vai saber um montão de coisas mas vai agir como se fosse um foca, o que para o leitor será lamentável.


Como você vê atualmente o mercado de Jornalismo Cultural?
A sensação que tenho é que um jornalista de economia tem sempre mais oportunidades para trabalhar e colaborar, com valores maiores de remuneração. O mundo das letras, da cultura de modo geral, ainda é visto como algo para diletantes, isso é histórico, vem desde os tempos de antanho. Se você gosta disso, tem de fazer o que gosta, vai ser inevitável. Mas saiba desde já que como jornalista de economia terá uma vida mais tranquila, ou com menos sobressaltos.


Você tem mestrado em História Cultural, e está fazendo pós graduação na mesma area, como foi o processo de escolha para essas especializações?
Foi um caminho longo. Queria continuar a estudar, achei inicialmente que seria na área de letras, só depois veio a certeza de que devia entrar na de história. Para entrar, tive de assistir a muitas aulas e estudar bastante, para passar na prova de teoria e metodologia e conseguir preparar um projeto que atendesse às exigências da área. Fiz um mestrado e agora estou no doutorado.  O caminho do autoconhecimento é muito particular. Não há regra, não há um jeito mais certo ou errado. Acho que a única coisa errada é fazer algo de que não gosta, algo que não quer. 



Falando das focas, que conselho você deixa para esses que realmente querem construir uma carreira promissora no jornalismo?
Leiam muito. E pensem por conta própria.




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