Repaginação do Jornalismo
A produção das notícias está em franco processo de repaginação, a partir
da porosidade entre leitor, jornalista e fonte como instâncias de enunciação,
onde processos que escapam às redações profissionais efetivamente se inserem no
circuito da notícia. Trata-se, do ponto de vista puramente jornalístico, de uma
mudança por justaposição de procedências e adoção de novos formatos de notícias
que passam a ser aceitos e praticados também no âmbito das redações
profissionais.
É este cenário que permite cogitar que mensagens sumárias como as
divulgadas pelo Twitter, por exemplo, possam ser consideradas notícias;
inclusive porque se aproximam do formato sintético das notícias radiofônicas ou
das manchetes dos jornais. Cumprem a mesma função informativa dosteasears e dos
títulos: buscam captar a atenção, direcionar e fomentar a leitura da matéria na
íntegra, através do simples clique no link de um tweet. Isso não significa que
o jornalismo possa ser exercido em apenas 140 caracteres. Trata-se, antes, de
um sistema de seleção e filtragem de conteúdo; que se soma a outros três
vieses: como espaço de atuação, como fontes para pautas e como feedback e/ou
caixa de ressonância das notícias.
Como fonte para novas notícias, amplia-se exponencialmente o acesso a
dados ou informações que podem virar notícias. Como espaço de atuação,
observa-se que também os veículos de referência têm investido fortemente na
utilização do Twitter. O portal G1, a revista Veja e os jornais impressos
diários aparecem nas pesquisas como os que mais enviam tweets como forma de
atrair leitores para a íntegra das matérias disponibilizadas nos respectivos
sites. São apenas superados pelos jornalistas-colunistas-blogueiros,
recordistas como grandes disponibilizadores de notícias em 140 caracteres, o
que apenas reforça que os meios tradicionais também buscam sua inserção na
lógica interna das micromídias.
É importante salientar, contudo, que não é a ferramenta utilizada que
configura o modelo de jornalismo e, sim, o seu contrato de comunicação com o
leitor, já que esse define as características do discurso. Não é por utilizar
uma ferramenta que surgiu como mídia social e que foi inicialmente utilizada
apenas por usuários que o jornalismo das redações se torna menos consolidado. O
que se percebe claramente é que no jornalismo líquido surgem variados modelos
de construção de conteúdo, onde o reaproveitamento, a re-mistura e a combinação
dos dados disponíveis em sites e mídias diversas circulam intensamente, sejam
esses profissionais ou amadores. E isso acarreta um novo desafio também para as
empresas consolidadas: já não basta mais publicar uma notícia, ela precisa ser
recomendada, filtrada, retuitada. É um processo que propicia uma sucessão de
mediações e reenquadramentos da notícia original. No jornalismo líquido, o
binômio emissor-receptor tem menos relevância do que a dinâmica da circulação
pelo tecido social.
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