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terça-feira, 16 de julho de 2013

Jornalista não planeja futuro nem reflete sobre profissão, diz estudo

O perfil do jornalista mudou. A nova geração é hegemonicamente feminina, com menos de 35 anos, não sindicalizada, de formação política débil, massacrada pelo tipo de empregabilidade a que está submetida e pela densificação do trabalho. As evidências desta realidade estão reunidas no livro As mudanças no mundo do trabalho do jornalista (Editora Atlas, 2013), organizado por Roseli Figaro, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT) da ECA. O livro conta com textos de Rafael Grohmann e Cláudia Nonato, doutorandos do CPCT, além de préfácio de José Marques de Melo, jornalista e um dos fundadores da ECA. Em 1972, Melo e o também professor da ECA, Jair Borin, traçaram o “perfil do jornalista profissional em São Paulo” da época, relatório reproduzido no pósfácio desta edição.


A pesquisa foi construída a partir de 2010 com quatro tipos de amostras. Os componentes do Grupo A foram captados por redes sociais, principalmente via email. Uma segunda amostra abordou os profissionais do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo (Grupo B). Jornalistas contratados de uma grande empresa editorial de São Paulo compuseram o Grupo C. A quarta amostra utilizou como critério jornalistas freelancers(Grupo D).
Do cruzamento desses dados, o grupo percebeu, sob o ponto de vista quantitativo, que os jornalistas sócios do sindicato são majoritariamente homens e de gerações mais velhas, com mais de 35 anos. Nos outros grupos de amostragem, destacaram-se mulheres jovens não sindicalizadas. Houve, portanto, uma mudança do perfil dos jornalista por gênero e também a constatação de que os jovens se sindicalizam menos.
Roseli conta que, durante a análise qualitativa, surgiram questões dos jornalistas relacionadas ao engajamento e descrédito na organização enquanto categoria. “Acredito que isso se dê pela atual situação de empregabilidade e pela precarização desses laços, que tornam a questão da sindicalização e da organização muito frágeis”, afirma.
Uma das perguntas do questionário queria saber se o profissional encontrava tempo para planejar sua vida – se tem conseguido planejar para curto, médio ou longo prazo, ou não tem conseguido planejar. Os resultados apontaram que os mais jovens e os profissionais freelancers são os que menos têm conseguido planejar. “Isso quer dizer trabalhar hoje, para consumir hoje e não saber como será seu trabalho no ano que vem”, explica a professora. Ela aponta que essas pessoas, com instabilidade e dificuldade em se relacionar com o mundo do trabalho, não vislumbram soluções coletivas – como sindicalizar-se ou organizar-se para pleitear melhores condições de trabalho –, mas sempre saídas individuais como, por exemplo, arranjar mais um emprego. “A solução de classe jornalística parece que se esvai”,acrescenta Rafael Grohmann.


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