São
duas horas da madrugada de uma fria quinta-feira de maio. Na cama, Thiago não
consegue pegar no sono. Na mente, todos os textos para revisar, a matéria
especial sobre a Legalização da Maconha que ficou pela metade, o medo de
enfrentar a marcha que acontece no dia seguinte, as contas acumuladas ao lado
do telefone e o sono perdido.
Aos
29 anos, em plena construção de sua carreira, ele recorda o momento em que
escolheu o Jornalismo como profissão. Na época já conhecia as dificuldades que
enfrentaria. Foram tantas as vezes que ouviu os professores mais próximos, no
ensino médio, pedindo (alguns implorando) para que ele mudasse de ideia e
optasse por Letras ou História, suas outras grandes paixões, e se tornasse
professor.
Mas
Thiago nunca pretendeu lecionar. Sonhava mesmo é com uma vida sem rotina, cheia
de aventuras – embora hoje, ele pense duas vezes antes de se aventurar.
De
lá para cá, foram muitas noites sem dormir, horas extras (nunca pagas) na
redação , fontes implicantes, matérias cortadas por editores e férias perdidas.
“Será que tudo isso valeu a pena?”, se indaga enquanto revira na cama. A foto
da namorada sorrindo na mesa de cabeceira chamou a atenção. Ela, também
jornalista, segura nas mãos o prêmio que conquistou em um concurso de
fotografia.
Trabalhar
numa grande redação nunca foi problema para Thiago, na verdade, sempre foi seu
sonho. E se era aventura que ele desejava, não tinha por que reclamar agora. O
Jornalismo lhe proporcionou viagens, grandes coberturas, amizades verdadeiras e
o amor à profissão. Tudo isso em meio a muitos erros gramaticais no início da
carreira, vários pisões no pé durante coletivas de imprensa, empurra-empurra em
busca da fonte ideal e uma cansaço sem igual.
Sempre
existirão obstáculos e desafios no caminho de quem almeja algo na vida. “Rotina?
Ela não existe para você, jornalista”, ironiza Thiago. “Existe uma hora para
chegar na redação, mas o trabalho nunca termina. Não pense que isso é falta de
organização ou responsabilidade, você pode ter o seu dia planejado, mas isso
não quer dizer que ele será como o imaginado“, conversa consigo mesmo como se
aconselhasse um jovem universitário.
O
dia a dia do jornalista é cheio de surpresas, nem sempre boas. É preciso amor,
paixão e comprometimento. Ah, um pouco de cara de pau também ajuda. Portanto,
deixe de lado a vergonha e a timidez. E tenha muita, muita paciência. Thiago
sabia de tudo isso e tentou se preparar ao máximo, mas ninguém está realmente
pronto. Aos poucos, com a experiência e o tempo é que se aprende.
Enfim,
ele consegue cair no sono, sabendo que o dia seguinte será longo e com a
certeza de que tudo o que viveu, as histórias que ouviu e que contou, as vezes
que seu nome saiu estampado nos jornais e, principalmente, o reconhecimento das
pessoas, tudo isso valeu a pena. A vida lhe fez jornalista – e para ele não
havia nada melhor, apesar dos sacrifícios.
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