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quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Crise dos outros

A edição de terça-feira (10/7) do Estado de S. Paulo publica um artigo do jornalista David Carr, do New York Times, com o título “Jornais americanos demoram para reagir à crise”. Entre os exemplos de consequências da crise econômica sobre a qualidade jornalística, o texto aponta o caso de um diário da Califórnia que publicou na primeira página o conteúdo de um blog que havia sido postado duas semanas antes.
Outra referência é o fato de que alguns conteúdos de interesse estritamente local, publicados em jornais importantes como Chicago Tribune, Chicago Sun-Times, San Francisco Chronicle e Houston Chronicle fora escritos nas Filipinas por jornalistas terceirizados.
O autor afirma que “entre fiascos operacionais e as fracassadas tentativas de reduzir custos de uma hora para outra, está claro que o negócio dos jornais impressos, que teme há 15 anos uma crise cada vez mais próxima, luta para se manter na superfície”.
A frase tem conotações terríveis para a indústria dos jornais: se não há sinais de recuperação desde o advento da internet, isso significa que a mídia tradicional tem poucos meios e tempo escasso para reverter a situação, apesar de haver, conforme o artigo, “pessoas inteligentes tentando inovar e uma grande quantidade de bom jornalismo publicada todos os dias”.
Corte de empregos
Na opinião de David Carr, “a indústria dos jornais se mostra cada vez mais parecida com a siderúrgica, a automobilística e a têxtil”. O texto observa que mesmo o socorro recente de investidores, como Warren Buffet, que comprou vários jornais, tem produzido pouco resultado prático, porque ele adquiriu as operações jornalísticas mas deixou com o antigo dono as obrigações com os planos de pensão, cujos custos ameaçam chegar a um ponto insustentável.
Sabe-se que grandes grupos têm tentado demitir jornalistas oferecendo-lhes participação em novos empreendimentos que envolvem operações digitais, mas David Carr observa que muitos profissionais importantes rejeitam essas propostas por falta de garantia de receita.
O articulista repete o que tem sido dito neste Observatório: “a tentativa de cortar gastos e buscar atalhos ignora um fato fundamental – o jornalismo de qualidade, independentemente da plataforma, é a única proteção garantida contra a irrelevância”.
Observe-se agora a notícia publicada na sexta-feira (6/7), pelo portal Comunique-se: “Folha, Band, iGe Diário do Grande ABC demitem jornalistas”.
A reportagem, anunciada com uma frase que lembra o pássaro sombrio cujo nome é impronunciável e que já devastou muitas redações, comenta ainda que o Jornal da Tarde, do grupo Estado de S.Paulo, também demitiu vinte jornalistas na semana anterior e pode deixar de circular aos domingos.
O Comunique-se afirma que pelo menos cinco jornalistas foram dispensados da Folha, lembrando que desde o final de junho o jornal cobra pelo acesso ao conteúdo produzido na versão online e que a direção da Folha prometeu recentemente investir na melhoria da qualidade do noticiário.
Como diz um comentário postado no pé da notícia do portal por uma leitora chamada Francis França: “Alguém por favor me explica como ‘investir na melhoria da qualidade’ combina com cortes na redação?”
Qualidade jornalística
É parte das convicções de muitos especialistas que o futuro pertence aos tablets e outros aparelhos portáteis de pequenas dimensões, como os smartphones. Também se sabe que as grandes empresas de tecnologia digital estão investindo na criação de sistemas integrados entre esses aparelhos móveis e a televisão inteligente, que irá funcionar como uma central de comunicação e de monitoramento de equipamentos, tanto nos escritórios como no ambiente doméstico. Portanto, é esperado para breve um novo impacto tecnológico contra as mídias estáticas, como jornais e revistas de papel e televisão unidirecional.
Diante da iminência de ter que produzir conteúdo multimídia que irá rapidamente esvaziar o interesse por jornais e revistas tradicionais, as redações deveriam estar imersas num processo de inovação, não no velho e desgastante recurso dos cortes e demissões.
“Cortar gastos e buscar atalhos”, como afirma David Carr, não é a melhor maneira de preservar a qualidade jornalística. Sem qualidade jornalística, não há como uma empresa tradicional de comunicação se destacar em meio aos milhares de novos concorrentes no ambiente digital.

Fonte: Observatório da Imprensa

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