Um bom relacionamento com as
fontes pode render furos e até grandes reportagens. Por outro lado, se a
convivência pender para o lado pessoal, o jornalista coloca em risco a
independência e isenção de suas matérias. Em um momento que informações erradas
transbordam na internet, jornalistas que prezam por uma apuração rigorosa
preferem o contato direto com quem realmente sabe do assunto. O grande desafio
é se relacionar caminhando em uma linha tênue entre o pessoal e o profissional.
Em palestras que dá sobre o tema,
o comentarista esportivo dos canais ESPN e da Rádio Estadão/ESPN, Paulo Vinícius Coelho (PVC), costuma dizer
que o limite da relação é o “fio da navalha”. “Não pode se afastar da fonte,
mas também não pode ser amigo e perder informações. Esse é um exercício diário
de tentativa e erro. Às vezes a relação se confunde, pode se afastar, se
aproximar”, explica ao Comunique-se.
Nos bastidores da televisão,
cercada de famosos, a colunista da Folha de S. Paulo, Keila Jimenez, diz que
nunca pediram para ver a matéria antes de ir ao ar, o que é uma prática comum,
porque sempre deixou tudo às claras. “Neste ambiente de televisão as pessoas
tem um ego muito grande. Eu mantenho distância. Não costumo aceitar convites
pessoais. Eu penso: ‘Quais são os interesses dela ao me passar isso? E ao me
convidar pra aquilo?’. Sempre tem alguém tentando te manipular”, alerta.
PVC conta que já passou por
situação em que as coisas se confundiram. “Em 2005, soube que um técnico com
quem eu conversava há alguns anos estava sendo contratado por um clube.
Telefonei pra ele e ele negou. Vi que estava mentindo, mas não tenho que
obrigar a fonte a dizer a verdade o tempo todo. Depois de algum tempo,
critiquei a atuação dele em um jogo e ele ligou pra tirar satisfação. Confundiu
tudo. Não me deu a relação de amizade quando precisei e depois quis cobrar”,
afirmou.
Os dois concordam que é preciso
ter acesso a quem tem a informação certa. “A internet é uma ferramenta
excepcional que pode te servir de parâmetro para uma pauta ou ideia, mas não
pode acabar ali”, explica PVC. Sobre a melhor maneira de entrar em contato,
Keila avalia que vai depender da fonte e do assunto a ser tratado. “Tem coisas
delicadas que não podem ser faladas pelo telefone.Como não consigo me ausentar
o tempo todo, faço umas 100 ligações por dia, que às vezes só rendem uma nota.
Outras vezes não rendem nada”.
Para os estudantes e
recém-formados que estão começando na carreira, PVC dá dicas. “Não se deve
trocar informação por interesses. A credibilidade é nossa matéria-prima. O
jornalista tem a obrigação de publicar tudo que sabe e deve priorizar o
leitor”.
Fonte: Comunique-se
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