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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Uma Bomba na Língua

Por Lucas Panoni

Me lembro de quando o Twitter apareceu. Virou uma febre como qualquer rede social. Todo mundo aderiu à ideia dos 140 caracteres. Eu não curti. Achei que não conseguiria sintetizar um pensamento nesse curto limite de escrita.

Mais tarde, José Saramago oficializou o que minha professora de Língua Portuguesa do Terceiro Ano do Ensino Médio teorizava:
Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.
Na época, chamei a opinião de "Teoria de Eunice". Dei os créditos a ela porque não conhecia Saramago e muito menos essa citação dele. Não acho difícil essa teoria compartilhada pelos dois, se tornar realidade.

Eu concordo com a Teoria. As pessoas são preguiçosas, mesmo. É natural. A gente tende a optar pelo mais fácil: o menor número de teclas, o menor número de toques, menos saliva, menos esforço.
Existe aquele famoso exemplo do "vc". Antigamente era "Vossa Mercê", depois "vosmicê", depois "você", e depois "vc".
 
Só que, na minha opinião (e na de Saramago, com certeza), isso acaba emburrecendo as pessoas. A galera vai vomitando informação sem digerir, sem refletir. Com cada vez menos letras, se formam cada vez menos frases, cada vez menos livros, cada vez menos ideias.

Seria ótimo que a gente conseguisse tornar uma ideia tão concisa a ponto de exprimi-la num gesto, mas não é tão fácil assim. As pessoas são diferentes, têm pensamentos diferentes e raciocinam diferente, então a comunicação fica frágil, se passada dessa maneira tão enxugada.

Mas não estou querendo dizer que isso é culpa do Twitter. O microblog só está se aproveitando da tendência no melhor estilo "ciber-capitalismo". Lá, as pessoas produzem informação em massa, as empresas selecionam as informações mais relevantes e vendem os produtos para estas pessoas, de acordo com seus anseios.

E também não cabe a mim julgar se esta é uma maneira certa ou errada de fazer a máquina da sociedade girar, mas mesmo assim, defendo o uso consciente do Twitter. Afinal, não quero comprimir tanto uma coisa a ponto dela explodir e destruir tudo. Pra isso já foi inventada a bomba atômica.

Um comentário:

  1. Assim que a ferramente foi lançada, com ela também surgiu muita discussão criticando a compressão da expressão que o Twitter poderia gerar. Ainda acho que há meios e meios. Com a internet as pessoas estão, na verdade, lendo muito mais, o tempo todo. Acho que o Twitter funciona mais como um leva e traz de links, um jeito de acompanhar a velocidade e número de acontecimentos e notícias e bobagens que as pessoas soltam por aí. Você tem a coisa resumida em uma frase e pode clicar ou procurar caso se interesse. É um jeito prático e eficaz de trocar informações e ideias. Mas os 140 caracteres não substituíram e jamais poderão substituir meios que permitam o uso de várias linhas. Mesmo os textos mais curtos postados nos blogs podem levar a textos maiores (como resenhas de livros) ou pensamentos mais extensos em geral. Segue a conversão e não a substituição. Bom texto.

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