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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Rodolpho Gamberini: o que aprendi com o jornalismo

Rodolpho Gamberini
Foto: Divulgação

Como o jornalismo surgiu na sua vida? Você teve a influência de algum amigo ou familiar? Foi logo na infância?

Surgiu como tudo o que é importante de fato na nossa vida surge: por acaso. Eu era estudante de Ciências Sociais na USP e um amigo recomendou que eu procurasse o irmão dele na Folha de S. Paulo, para arrumar emprego. Comecei como diagramador do jornal.

Você trabalhou em jornal impresso, rádio e televisão. Quais as principais diferenças que você encontrou nessas mídias?

Todos os processos são completamente diferentes nesses três meios.

Qual a reportagem que mais lhe marcou?
Não sei responder a essa pergunta. Não consigo destacar uma resportagem especificamente como a mais marcante. Lembro de uma reportagem na Folha com o secretário de segurança Erasmo Dias, em plena ditadura. Prá se ter uma ideia de quem era esse brucutu, uma vez ele disse “…é claro que três negros ou mulatos dentro de um carro à noite são suspeitos!” Na reportagem que fiz, Erasmo Dias dizia a um grupo de mulheres de uma organização direitista, conservadora, que o jornalismo estava infiltrado por “comunistas” e , me apontando, disse que a Folha não publicaria uma linha do que eu escrevesse. Mas o diretor da Folha era Claudio Abramo, o melhor jornalista que conheci. No dia seguinte o jornal publicou uma página inteira às besteiras que o Erasmo Dias -apoiador da tortura, do masacre de inocentes pela polícia- disse que não sairiam no jornal.

Na TV ganhei dois prêmios Vladimir Herzog de Direitos HUmanos. Um por uma reportagem sobre o assassinato de um doente mental, com um tiro disparado com o cano do revólver dentro da boca. Quatro PMs trabalhavam ilegalmente como seguranças de uma loja no centro e levaram o doente como “suspeito” para uma salinha dentro da loja. Lá ele foi assassinado. O assassino, se me lembro bem, tinha uns 20 anos. O outro ^prêmio foi para uma reportagem sobre tortura de internos no manicômio de Santos. Os enfermeiros amarravam os pacientes na cama e os torturavam, pelo simples prazer de torturar. Era dificil distinguir quem eram os loucos.

Qual a diferença entre o trabalho de um âncora e um mero apresentador?

O âncora é o editor do jornal, que também o apresenta. Ele tem o controle do que vai ao ar, decide como as reportagens serão editadas e depois as apresenta, fazendo ou não comentários e interpretações do que foi mostrado. O apresentador lê as notícias redigidas por outros profissionais.

Como foi para você lançar em 1986 o programa Roda Viva?

Lançar o Roda Viva foi uma das melhores coisas que fiz nos meus 39 anos de profissão. Roberto de Oliveira e Valdir Zwetsch perceberam o espaço que havia, naquele momento de abertura, em 86, espaço para um programa de tv que apresentasse o debate político verdadeiro a que o país estava desacostumado. Não só o debate político, mas toda a efervescência que o país vivia depois de 21 anos de ditadura.

A jornalista Rachel Sheherazade tem sido muito criticada por dar sua opinião durante o jornal do SBT. Como você vê essa situação? As críticas tem fundamento?
Rachel Sheherazade não tem sido criticada por dar a opinião dela durante o jornal. Ela tem sido criticada por ter uma visão extremamente conservadora.

O que o jornalismo lhe ensinou até o momento?
O jornalismo nos últimos anos deixou de ensinar alguma coisa a quem quer que seja, porque virou “ibopismo”. Pense nos telejornais de hoje? O que faz sucesso? A versão, no século XXI, do que o Gil Gomes fazia há 40 ou 50 anos… O Gil Gomes com um banho de loja.

Por que tanta matéria de polícia? Porque é isso que o telespectador sem escolas de qualidade, sem educação de qualidade, sem visão crítica do mundo em que vive, quer ver. Então, deixou-se o jornalismo de lado -detesto a palavra nicho- prá fazer reportagens que vão “pagar”, no jargão paupérrimo das redações de hoje.

Como você define o bom jornalismo?
Eu não defino nada. Mas conheço duas boas definições. A primeira, do Claudio Abramo: O jornalismo é a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”. A segunda, do Millôr: “Jornalismo é de oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

Como devem ser feitas as coberturas de tragédias sem se cair em um sensacionalismo barato?
Com repórteres mais bem preparados, que quando vissem uma criança ferida, não usassem chavões centenários como “..o pequeno José, de apenas 10 anos..” . Deveriam dizer “… José, de 10 anos, …..”

Que conselho você dá para nós estudantes de jornalismo?
 Ainda dá tempo de vocês procurarem coisa melhor!

Fonte: Casa dos Focas

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