O jornalismo de cidade é aquele que se refere a assuntos de uma determinada região, e um dos principais serviços que o rádio presta ao ouvinte. Além de considerado como passagem obrigatória para profissionais da área, também dá ao jornalista que passa por essa editoria a confiança de poder encarar qualquer outra.
Em entrevista com o jornalista Tiago Muniz, de Santo André, repórter da Rádio Jovem Pan desde 2011, que já foi apurador, atendente de serviços e agora é repórter policial e de cidades, é possível descobrir e entender melhor sobre os desafios e as vantagens do jornalismo local.
“Cobrir cidades é completamente enriquecedor. Conheci lugares e realidades muito diferentes, e essas oportunidades me acrescentaram não apenas como jornalista, mas como pessoa também”. Essa é a definição de TC, como também gosta de ser chamado o jornalista, para o seu trabalho hoje em dia.
O ouvinte sempre foi participativo e hoje com a tecnologia, é muito mais fácil que ele interaja em maior quantidade com programas de rádio. O repórter que cobre a editoria de cidades é pautado muitas vezes por temas que o próprio público sugere. Na maioria das ocasiões, a pauta é um problema que o jornalista acha que deve resolver. “Muitas vezes você se depara com situações desoladoras. Às vezes você acaba com uma sensação meio amarga na boca. Às vezes você não resolve. Jornalista não é a ‘tábua da salvação’. O problema é que as pessoas te veem como o último recurso” declara Muniz, que no começo de carreira atendia o telefone da rádio e lidava com problemas de todos os tipos.
Outra oportunidade que essa editoria dá ao profissional é a quantidade de fontes que ele terá contato. “Se há um relacionamento entre a fonte e o repórter, facilita muito na hora do entrevistado passar uma informação, ou dar uma declaração, por exemplo”.
Aos que não gostam de rotina, talvez fiquem um pouco decepcionados, mas em alguns momentos, os acontecimentos se repetem “Explosão de caixa eletrônico, incêndio, por exemplo, existe uma certa ‘receita de bolo’ para cobrir esse tipo de notícia. Eu já sei quem eu tenho que entrevistar e como devo agir”.
Mas o dia a dia do repórter não é nada monótono. “Muitas vezes sou pautado antes mesmo de chegar na redação, e já começo o dia na rua. Depois, posso voltar para a redação e apurar algumas informações de lá mesmo até o momento de entrar no ar. Acontece também, com uma certa frequência, de eu pegar noticias que duram o dia inteiro”.
Cada jornalista tem um estilo de trabalhar. TC confessa que a pauta favorita dele é quando há confusão que se resolve no mesmo dia. “Uma das pautas que mais me marcaram, foi quando a CEAGESP mudou o sistema do estacionamento de caminhões e eu fui até lá cobrir uma manifestação que os caminhoneiros estavam fazendo. Já tinha feito algumas entrevistas e já estava indo embora, achando que não iria mais acontecer nada, quando um contato que eu tenho dentro da CEAGESP me ligou me dizendo que a situação tinha piorado. Olho para trás e vejo uma coluna de fumaça! Aí eu voltei, entrei no prédio e comecei a narrar o que estava acontecendo, ao vivo”.
Um dos motivos de Tiago gostar tanto desse tipo de cobertura é a possibilidade que o repórter tem de envolver o ouvinte na notícia. “O rádio não tem o suporte da imagem, então é preciso abusar da sensorialidade por meio da narração. Essa é uma característica romântica do rádio, mas muito valiosa que os outros meios de comunicação não conseguem utilizar”. No entanto, não é preciso fazer isso com propriedade. “Uma vez, ocorreu um incêndio em São Bernardo, e eu fiz de tudo para fazer uma entrada antes de outro programa entrar no ar, mas eu estava ofegante, e entrada foi um desastre. Nunca façam isso”.
Muito do que desenvolve no trabalho, Muniz afirma que aprendeu na faculdade. Formado pela Universidade Metodista, desde como escrever uma lauda, como fazer uma reportagem, até como fazer a apuração, foram habilidades que desenvolveu primeiro quando estudava. “A experiência te dá traquejo, mas o que se ensina nas universidades não deve nunca ser dispensado”.
Apesar da experiência, TC admite quais as pautas que dão mais trabalho e são as mais difíceis de fazer. “Outro dia tive que falar sobre ‘violência no Rodoanel’. Fui até o local, apurei as informações, entrevistei as pessoas, e isso acaba cansando o repórter. Outro tipo de pauta que é difícil é aquela que a fonte não quer dar depoimento”. No rádio, é necessário que o entrevistado fale, e nem sempre isso é possível. “Eu particularmente entendo que se a fonte não quer falar, eu posso dizer isso na matéria, e está resolvido. Mas dependendo da fonte, é preciso insistir até conseguir uma fala”.
O repórter que sempre sonhou em seguir a profissão, se identifica com o rádio desde criança. Hoje, trabalhando numa das maiores rádios jornalísticas do país, se sente realizado, mas não a ponto de se acomodar.
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