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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Na sociedade contemporânea: o essencial AINDA é invisível aos olhos

Se você tem mais que 20 anos, respire e prepare-se para uma viagem nostálgica. O Pequeno Príncipe irá te levar para uma experiência única e visualmente incrível no âmbito de animações. Em mais uma das adaptações do livro atemporal de Antoine de Saint-Exupéry, lançado em 1943, o diretor Mark Osborne (o mesmo de Kung Fu Panda) trabalha duas técnicas distintas de animação: a técnica de animação digital para retratar a vida real da peronagem e a técnica de stop motion na transposição para o imaginário – que é representada pela história do pequeno príncipe.

Foto: Divulgação
A trama se inicia com uma garota, que tem cerca de nove anos de idade e uma vida toda planejada pela sua mãe, fazendo um teste para estudar em uma renomada academia que promete prepará-la para a tão esperada, pela mãe, vida adulta. As duas moram sozinhas e se mudam para uma nova vizinhança como tentativa de ser aceita na academia. A característica da região é padronizada, casas semelhantes, pessoas que seguem praticamente a mesma rotina, porém, há uma exceção. O vizinho da menina é um velho aviador disposto a contar a história que viveu após um acidente no deserto.

Ao seguir o seu plano diário de férias, no qual sua mãe preparou por hora todas as atividades que a menina deverá desenvolver, ela se depara com uma folha de papel com desenhos e o início de uma história que o aviador arremessa em sua janela. No momento em que ela lê, a narrativa do pequeno príncipe é inserida de uma maneira sútil. As duas histórias conversam em plena sintonia e o público se ambienta e percebe o quanto cada detalhe se complementa.

Foto: Divulgação
A vida da menina começa a mudar conforme o aviador vai lhe contando a história do príncipe, ela inicia a liderança de sua própria vida e toma decisões além das desejadas e planejadas pela mãe. O auge do filme é quando o “mundo de criança”, que ela desconhece, é apresentado. Ela faz uma análise rápida da própria vida e expõe a vontade de permanecer na infância, e como resposta o aviador alerta que “o problema não é crescer, é esquecer”. Entre conversas, brincadeiras e presentes, uma grande amizade surge entre a menina e o aviador. A relação da menina com o príncipe pode ser entendida como a do leitor com o livro.

A trilha sonora é, ao mesmo tempo, penetrante e suave, pois é introduzida de uma forma imperceptível que coloca o telespectador dentro do filme. O roteiro é bem trabalhado, explica com exatidão o sentimento das personagens e causa uma reflexão fiel à obra de Saint-Exupéry. No desenrolar do filme é possível perceber a crítica que é feita em relação aos workaholics da vida adulta e a sociedade de consumo.

Por buscar um final feliz, a animação desanda e se torna um pouco confusa. O desfecho pode destruir tudo o que foi construído no começo, pela busca incessante de respostas e de finais felizes. O Pequeno Príncipe abandona a ideia de que grandes mistérios são importantes e que as dúvidas nos fazem refletir mais do que as respostas, fugindo da proposta atemporal e tão bem elaborada pelo escritor do livro.

Apesar de o livro ter mais de 70 anos, a mensagem passada no filme ainda é atual. Os questionamentos surgem, ainda que inconscientemente, e a sensação de que “o essencial é invisível aos olhos”, uma mensagem que dificilmente uma criança é capaz de captar. Talvez a provocação seja realmente para os pais.


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