O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, quebra a estética do que estamos acostumados a ver em animações. Os personagens são desenhados em rabisco simples, 2D, sobre espaços em branco que nos remete a folha de papel. Com estética minimalista, o longa mostra um menino pobre cujo pai abandona a família para trabalhar em busca de melhores condições.
A narração não linear pode causar estranheza para algumas pessoas, e apesar de ser um filme para o público infantil, há uma grande crítica ao capitalismo. É possível perceber os estágios que o capitalismo atravessou no decorrer da trajetória do menino (protagonista). A ida do pai, que até então plantava e vivia do seu próprio esforço, e a cidade que é um sintoma da industrialização, do trabalho assalariado e da mecanização.
A exploração dos agricultores, a produção exagerada da indústria de tecido, o transporte dos trabalhadores, a falta de estrutura nas comunidades carentes, as guerras, o regime militar, os artistas de rua... Tudo é retratado de uma maneira lúdica. A cidade, ao mesmo tempo que se moderniza, trocando o trabalho manual por máquinas, evolui desgovernadamente e sofre com as consequências.
O ponto de vista do longa é o do menino, que enxerga tudo com ingenuidade e inocência, muitas vezes sem compreender completamente o que esta acontecendo. O filme vai te dando as ferramentas de um jeito sutil, com símbolos visuais e sonoros com o objetivo de que você monte a história (não desista se nos primeiros minutos não fizer sentido).
Com pouquíssimo diálogo (algumas frases são faladas de trás para frente) os sons são fundamentais para contribuir na expressão dos sentimentos e na evolução da trama. O que mais impressiona é a mistura de técnicas, incluindo colagens, carros feitos por computador (com o objetivo de representar a desigualdade social) e mesmo imagens reais de documentários que mostram árvores sendo cortadas.
Talvez as crianças não compreendam a mensagem proposta pelo diretor e nem as referências históricas, mas talvez não seja necessário. A simples sensibilização pela desigualdade como tema central já pode ajudá-las a crescer com outra visão.
Dizem que filme bom é aquele que te faz ficar pensando depois, ligando os pontos e tentando captar a intenção do diretor, pois bem, O Menino e o Mundo é um desses.
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