Em março
de 1994, duas mães acusaram os donos da Escola Infantil Base de terem abusado
sexualmente de seus filhos. Um laudo não-conclusivo do IML
informava que as fissuras analisadas dos corpos das crianças eram “compatíveis
com ato libidinoso”. Isso foi
o suficiente para a imprensa brasileira divulgar o caso, que instantaneamente
ganhou repercussão nacional. O resultado foi quase instantâneo: a escola foi depredada,
os donos foram vitimas de torturas físicas e psicológicas, além de terem seus
rostos, nomes e endereços estampados na maioria dos veículos de comunicação do
país.
De certo
modo, você pode até estar pensando que “a vida tratou de se vingar”, certo? Só
que não. Meses depois, o caso foi arquivado por falta de provas. As tais fissuras encontradas
eram causadas apenas por diarreia, e foi comprovado que não houve qualquer
tipo de molestamento sexual às crianças. Os acusados foram considerados inocentes pela
justiça, mas até aí, o estrago já estava feito.
Capa do extinto jornal Notícias Populares Fonte: Casa dos Focas |
Instalações da Escola Base após o ocorrido Fonte: Casa dos Focas |
Contudo,
o que aconteceu depois? Onde e como estariam as pessoas que tiveram seus nomes
manchados? Será que conseguiram arrumar um novo emprego? Como estariam
lidando com o trauma? Foram devidamente indenizados?
Com o
objetivo de descobrir as respostas destas e de outras perguntas, o jornalista
Emílio Coutinho foi atrás de cada um dos envolvidos no Caso da Escola Base, e o resultado desse
trabalho foi reunido em um livro-reportagem, apresentado como Trabalho de
Conclusão de Curso em Jornalismo, divulgado em março de 2017.
Fonte: Divulgação |
O livro resgata
memórias de protagonistas, antagonistas e até personagens secundários envolvidos no caso. Publicado pela Editora Casa Flutuante, “Escola Base: Onde
e como estão os protagonistas do maior crime da imprensa brasileira” tem
prefácio do jornalista Heródoto Barbeiro, âncora do Jornal da Record News e
editor do Blog no R7.
A obra traz entrevistas com Valmir Salaro,
repórter da TV Globo e primeiro jornalista a divulgar o caso; Paula Milhin, uma das ex-proprietárias da Escola Base; delegado Edélcio Lemos, responsável por convocar a
imprensa para divulgar o caso;
entrevista com com as
duas mães que fizeram as acusações de início; diálogo com Maurício Alvarenga,
o perueiro; Richard Pedicini, o gringo que acabou entrando no caso; e o casal
Saulo e Mara, pais que também foram acusados de praticar orgias sexuais com as
crianças da Escola Base.
Icushiro Shimada, ex-dono da Escola Base, faleceu vítima de um infarto em 2014, assim como sua mulher, Maria Aparecida Shimada, que
morreu de câncer em 2007.
O autor do livro, Emílio Coutinho, acredita que seu trabalho ajudará estudantes e jornalistas "a refletirem sobre o
poder tanto de construir como de destruir a reputação de um cidadão, uma
família ou um grupo de pessoas por meio da divulgação midiática". A obra incentiva os profissionais de comunicação, principalmente os jornalistas, a meditarem sobre a importância da apuração realizada de maneira profunda, antes da divulgação de quaisquer fatos que sejam, para que casos como da Escola Base não tornem a se repetir na imprensa brasileira.
O livro pode ser adquirido através do e-mail: casadosfocas@gmail.com.
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