São
duas horas da madrugada de uma fria quinta-feira de maio. Na cama, Thiago não
consegue pegar no sono. Na mente, todos os textos para revisar, a matéria
especial sobre a Legalização da Maconha que ficou pela metade, o medo de
enfrentar a marcha que acontece no dia seguinte, as contas acumuladas ao lado
do telefone e o sono perdido.

Mas
Thiago nunca pretendeu lecionar. Sonhava mesmo é com uma vida sem rotina, cheia
de aventuras – embora hoje, ele pense duas vezes antes de se aventurar.
De
lá para cá, foram muitas noites sem dormir, horas extras (nunca pagas) na
redação , fontes implicantes, matérias cortadas por editores e férias perdidas.
“Será que tudo isso valeu a pena?”, se indaga enquanto revira na cama. A foto
da namorada sorrindo na mesa de cabeceira chamou a atenção. Ela, também
jornalista, segura nas mãos o prêmio que conquistou em um concurso de
fotografia.
Trabalhar
numa grande redação nunca foi problema para Thiago, na verdade, sempre foi seu
sonho. E se era aventura que ele desejava, não tinha por que reclamar agora. O
Jornalismo lhe proporcionou viagens, grandes coberturas, amizades verdadeiras e
o amor à profissão. Tudo isso em meio a muitos erros gramaticais no início da
carreira, vários pisões no pé durante coletivas de imprensa, empurra-empurra em
busca da fonte ideal e uma cansaço sem igual.
Sempre
existirão obstáculos e desafios no caminho de quem almeja algo na vida. “Rotina?
Ela não existe para você, jornalista”, ironiza Thiago. “Existe uma hora para
chegar na redação, mas o trabalho nunca termina. Não pense que isso é falta de
organização ou responsabilidade, você pode ter o seu dia planejado, mas isso
não quer dizer que ele será como o imaginado“, conversa consigo mesmo como se
aconselhasse um jovem universitário.
O
dia a dia do jornalista é cheio de surpresas, nem sempre boas. É preciso amor,
paixão e comprometimento. Ah, um pouco de cara de pau também ajuda. Portanto,
deixe de lado a vergonha e a timidez. E tenha muita, muita paciência. Thiago
sabia de tudo isso e tentou se preparar ao máximo, mas ninguém está realmente
pronto. Aos poucos, com a experiência e o tempo é que se aprende.
Enfim,
ele consegue cair no sono, sabendo que o dia seguinte será longo e com a
certeza de que tudo o que viveu, as histórias que ouviu e que contou, as vezes
que seu nome saiu estampado nos jornais e, principalmente, o reconhecimento das
pessoas, tudo isso valeu a pena. A vida lhe fez jornalista – e para ele não
havia nada melhor, apesar dos sacrifícios.
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