Ruy Castro durante o debate sobre Jornalismo Literário na Casa Folha Fonte: Divulgação |
Dos quatros dias de FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) eu concordo com o André Barcinski (crítico da Folha), quando ele diz que o melhor momento foi "o debate com Ruy Castro na Casa Folha". Certamente que essa edição da FLIP foi marcada por bons momentos, como o primeiro dia em que Luis Fernando Veríssimo fez a abertura do evento. Isso para não mencionar a figura que escolheram para prestigiar esse ano, o grande Carlos Drummond de Andrade.
O que mais chamou atenção foi a frase polêmica de Ruy Castro: "Ouvi falar de jornalismo literário pela primeira vez há dez anos e até hoje não entendi o que significa".
Com André Barcinski como mediador, a mesa debatia o Jornalismo Literário." Acho que existe jornalismo bem escrito e jornalismo mal escrito", ressaltou o jornalista.O escritor criticou a importância dada ao "new journalism" ou jornalismo literário, gênero surgido na imprensa americana nos anos 1960-1970, que pretendia misturar a narrativa jornalística com a literária.
""Sempre achei que fosse possível conciliar a objetividade com o capricho de estilo. Sempre fiz isso na minha carreira. O 'new journalism' é só um rótulo, não acrescentou nada."
Em seguida Ruy Castro ironizou Gay Talese, um dos papas do gênero. O jornalista norte-americano ganhou fama com a reportagem "Frank Sinatra está resfriado", em que traça um perfil do cantor sem o ter entrevistado, apenas observando e ouvindo opiniões de pessoas que o cercavam.
"Jornalismo é jornalismo, bem ou mal feito" Fonte: Divulgação |
"Qualquer repórter faz isso. Desde a época de Gutenberg [alemão que criou a primeira máquina de imprimir publicações em larga escala] se faz isso", brincou.
Autor de biografias sobre Garrincha, Nelson Rodrigues e Carmen Miranda, Castro comentou seu método de trabalho --e endereçou algumas dicas a Talese."A apuração é a coisa mais importante. Você tem que ter um conhecimento prévio da pessoa que vai entrevistar. Sabendo isso, você tem como aproveitar melhor o que ela fala. Faço isso não só nos livros, mas também para as entrevistas que fazia para a 'Playboy'. A minha pauta tinha umas 300 perguntas."
Outra regra de Ruy Castro é nunca biografar pessoas vivas ou que morreram há pouco tempo. "Já recusei muitas propostas. Não há possibilidade de aceitar. O cadáver não pode estar fresco. No dia seguinte, depois da morte, a pessoa não tem nenhum defeito, só qualidades."
Ele disse ainda que não planeja nenhuma nova biografia no momento, até por conta dos problemas causados pelos herdeiros dos biografados.
"Até tenho alguns nomes, mas só de pensar nas dificuldades que teria com os herdeiros, desamino. Di Cavalcanti, Guimarães Rosa: é tudo chave de cadeia", brincou.
Fontes: folhailustrada/ruycastro
Nenhum comentário:
Postar um comentário